identidade * identity vozes * voices

Mulher irmã e a outra

Este ano experienciei momentos em que a minha saúde e energia pediram preservação. Mais descanso e autocuidado que o habitual. Nessa fase, tinha regressado a Portugal com vontade de expandir projectos e socializar. Foi o meu aniversário e aceitar a paragem foi a custo, por isso foi forte a mensagem para o fazer. Tempo de transformação e chegar cada vez mais a mim. Estive acompanhada com mulher irmã em minha casa, respeitando os limites, o espaço e necessidades de cada uma. Cozinhámos à vez, mediante a disponibilidade do dia. E juntas acolhemos conversas, purga e choros, libertação de alma no caminho do Amor e de Ser Mulher, agora e ao longo dos séculos.

Nessa altura, soube bem a companhia e no depois ficar só comigo. Tive em seguida outras amigas de vários pontos do globo a virem até cá e reencontros, bênçãos.

Aconteceu algo extraordinário: estas mulheres irmãs trouxeram elas mesmas o espaço do meu não e limites. Mesmo sem a disponibilidade para as acolher em minha casa, como gosto de receber. O cuidado de estarmos e irem, no tempo das trocas e sem sobrecarregar. Respeitando espaço e necessidades. Isto aconteceu: recebi ofertas de apoio, compreensão e proximidade, durante semanas, ao trazer as minhas questões e necessidades, os nãos dos limites claros, os pedidos e até sem os dizer. O respeito pelo espaço individual, as diferentes necessidades e formas alinharam-se com o tempo coletivo das trocas, tudo acolhido, cuidado e sanado. Mulheres irmãs, vi-me espelhada e cuidada. Assim como nos vi a cuidarmo-nos a nós mesmas e umas às outras.

Quando escuto falar sobre ciúmes, invejas e conflitos entre mulheres, sei que existem esses ruídos, também os conheço. E experiencio uma abertura, amor e compreensão crescentes nesta Irmandade. Na vivência de sermos Mulheres inteiras, cada vez mais livres para ser tudo, assim acolhendo e colhendo: de nós mesmas e todas.

E a Outra existe?

Somos frações de cada uma, reflexos da diversidade que a inteireza e riqueza de ser mulher e humana contêm. Somos Um@ só.

É um amor profundo que nos liga, antigo na existência e vivido pelos séculos. Que nos encontra. Essa é a Irmandade. 

Amor, Respeito, Experiência e Comunicação (escuta, vozes) têm sido as receitas para as pontes que encontro, de ultrapassar conflitos ou dores profundas, dando voz e corpo à presença e entendimento. Somos antigas juntas, somos vida.

Cândida Rato, Agosto 2023

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